quinta-feira, 7 de abril de 2011

"memória é um artifício utilizado, em geral, quando se necessita tirar proveito de algo sabido, porém, estrategicamente, esquecido." degredado

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fragmento - "Degredado" (Tejo)

"O Tejo em Lisboa é um rio aprisionado. Desce encalacrado entre grades, escoltado até o mar."

Fragmento - "Degredado" (sobre a fotografia)

“ninguém tem culpa do que aconteceu comigo. Eu também não! Tinha época que só fotografava pia suja, ralo entupido, tudo que não flui.  Quem ia dizer que isso é trauma? No máximo, diriam que é tara: Por sujeira? Sujeito esquisito. Foda-se para o que eles pensam! Eu também penso um monte de merda. Se pagassem um centavo por cada monte de merda que eu penso, acho que eu era o cara mais rico do mundo. Por isso eu fotografo. Se fosse escritor, ia encher o mundo da merda que eu penso, por isso não escrevo. Fotografar é um jeito discreto de mostrar a merda que os outros fazem.” - degredado

Fragmento inédito - "Degredado" (memórias soltas)

“[Assento em triste peito uma fagulha alegre]

Correntes da memória invadem o pensamento. É como se colhesse fatos suspensos, a existir novamente, quando pegos no ar. Eu me lembro de cada coisa, ouvi algo assim, uma vez, no teatro. Tive amigos nas artes. Gente lembradoira. Diga-me que uma palavra não existe e digo-lhe: paciência, que exista. Lembrar faz-me mais perto de ti. O que não se esquece, existe por mais tempo. Lembro-me de muito antigamente, antes de tudo existir. Lembro-me como quem reconhece odores. Um conhecido sabia  distinguir o cheiro da poeira sob os postes nas ruas, a diferença entre o cheiro de uma barata e um rato. Era pessoa considerada normal (tantos loucos por menos). A ideia dessa sabedoria repugna-me. Eu lembro de coisas esquecidas. Lembro-me daquela noite em que me seguiste, oculta como bandido. Digo: BANDIDA! Você não pode roubar o IN-FI-NI-TO. Odores e lembranças permanecem. [...] As histórias se recontam. Um conhecido tinha uma dessas histórias infelizes mas aceitáveis, virou pesadelo após o requentamento de histórias não  contadas. O menino, antes apenas pobre, preto, homossexual, artista, mãe suicída, após saber-se leucêmico, descobriu ter sido adotado, que a mãe era falsa, uma empregada dos pais verdadeiros que aceitou levá-lo para São Paulo, para bem longe. Um dia, o menino viu a mãe, subitamente, beijar a vizinha na boca. Quando essa vizinha foi embora do bairro foi que a mãe enfiou a cabeça no forno, abriu o gás e morreu.”

Canção de Lisboa